Por um instante, preste atenção no seu ritmo. Busque encontrá-lo na sua vida ou na sua imaginação. Onde você reconhece a presença de ritmo?
Eu posso encontrá-lo no coração que pulsa e através da inspiração e da expiração em que realiza-se a respiração. Nas ondas do mar, nas estações do ano, nas comemorações anuais como aniversários, dia das crianças, Páscoa, dia das mães, São João, dia dos pais, Natal, e em outros tantos exemplos.
No ritmo em que vivemos, e no ritmo em que vivíamos antes dessa quarentena. Nessa cadência de acontecimentos que criava uma ordem na nossa rotina e que precisou se ajustar e tanto!
Parece um nada, mas a questão do ritmo está inteiramente entrelaçada à nossa capacidade de adaptação a este novo momento, para não falar de tantos outros. Além disso, ele permite uma organização entre um tempo e outro, entre uma atividade e outra, que traz uma noção de equilíbrio na nossa estrutura psíquica e biológica.
Posso falar do tempo para plantar e tempo para colher… o ritmo das estações que nos trazem alimentos diversificados ou do dia e da noite que nos permite realizar e descansar, ou das ações que realizamos para preparar algo e depois aproveitar o resultado.
Valorizar esses episódios não é só um tributo à vida, como é fundamental para que a vida se estabeleça com certa harmonia.
Para as crianças então, o ritmo é de uma importância maior ainda. Elas ganham segurança quando reconhecem que seu dia se estabelece de determinada maneira, e com frequência. Nisso, inclusive, está a aprendizagem. O objeto jogado no chão 10 milhões de vezes, a mesma história contada 5 vezes seguidas, a música repetida o dia inteiro. Tudo isso criando memória.
Assim, a criança, ainda sem noção do tempo exato, também ganha perspectiva e confiança quando reconhece o ritmo dos acontecimentos. Por exemplo, quando pergunta:
– Quando vamos viajar para a casa da vovó?
E tiver como resposta:
– Depois que você dormir 3 noites.
Ou
Quando vamos ao cinema?
– Depois do almoço.
Ou
– Me dá um pedaço de bolo?
– Na hora do lanche.
Ela poderá ao reconhecer o período entre uma coisa e outra – e que aquilo de fato acontecerá – que o mundo vai se tornando mais seguro para ela. O tempo vai tomando forma. E, quando ela associa as ações no tempo e pode esperar por elas, ela desenvolve paciência, tolerância, porque percebe que muitas coisas acontecerão até lá, até o tempo esperado, e ganha limites.
Mas não são só as crianças que precisam de ritmo, embora para elas seja essencial.
Em qualquer idade, a “repetição feita conscientemente fortalece a vontade, e assim também a prontidão para o bom desempenho”([1]).
Então, preste atenção, porque agora em que estamos em condições muito especiais, mais do que nunca, o ritmo pode contribuir com nossa saúde e bem estar.
E se para as crianças é algo que deve ser guiado e orientado; para o adulto, é algo que ele próprio deve exercitar, a partir da sua vontade, para estabelecer um ritmo.
Então, se você não teve um bom treino, durante seu desenvolvimento, até seus 21 anos, aproximadamente, é hora de se empenhar um pouco mais.
E, para apoiar esse exercício, crie uma lista de atividades, não só para o dia, mas para a semana ou quinzena. Use cores, formas, o esquema e a ferramenta que melhor te servir e, organize seu dia nos três períodos: manhã, tarde e noite.
Algo como por exemplo:
No período da manhã, cuido das tarefas de casa e a tarde cuido das tarefas profissionais ou 2ª, 4ª e 6ª faço assim, e na 3ª e 5ª inverto, a partir de tantas horas é meu lazer. No período da semana, tem que reservar um período onde nada disso vale. É seu domingo, o dia em que todas as regras podem ser diferentes.
Experimente por 30 dias. E depois me conte como foi!
Olivia Gonzalez
Aconselhadora biográfica, terapeuta corporal e terapeuta floral
[1] W. Goebel e M. Glökler em Consultório Pediátrico, Ed Antroposófica.